Sem rumo. Assim andava um viajante pelas estradas da vida. "Cada passo é teu tormento", pensou ouvir em sua cabeça o viajante, como uma idéia difusa que surge do nada, captada livre e sem compromisso de ficar ou partir. Ao seu lado estava um velho, nem sequer o havia notado quando este proferiu-lhe as primeiras palavras.
"O que buscas?"
Era um velho sentado a uma pedra. Barbas brancas. E rosto queimado de sol. Como se estivesse também a vagar pelas estradas e, descansando do corpo, sua mente escolhesse abrigo em um silencioso diálogo com as pedras. Por um breve instante, respirou o ar do mundo e falou ao viajante.
"Tudo na vida é passível de controle, exceto as pessoas."
O viajante não compreendeu, ainda não estava pronto para o entendimento do velho mas mesmo assim retrucou.
"E por que as pessoas seriam diferentes?". E continuou. ''Somos todos terra da mesma Terra e diz-me que somos uma exceção?"
O velho sorriu. Era tudo tão simples. Poderia dar demonstrações, provas e teoremas de seu universo quântico. E se lembrou, então, do tempo em que tudo isso era também nebuloso para ele. Preferiu duas palavras.
"Livre arbítrio."
O sol despendia uma energia calorosa quando viu-se que era hora. Havia de se despedir. A noite chamava-o para uma bela e estrelada madrugada mas este insistia em ficar. Suas horas haviam expirado e as leis da natureza não falharam. Não podia desafiá-las. Nem os homens podem.
O viajante olhou ao seu redor.
O velho havia sumido.

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